quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre mudança de valores...


Nunca mais eu tinha escrito meus textos sobre lifestyle, mas ontem tava com umas ideias na cabeça martelando há um tempo, é meio grandinho, mas acho que vale a pena refletir:

Não sei se sou eu que não estou acompanhando a “evolução do homem” ou as pessoas estão realmente ficando malucas... Mas tenho notado uma mudança de valores enorme na sociedade em geral. Ter tem muito mais valor do que ser nos dias de hoje do que há 10 anos atrás.

Não sei se é porque há 10 anos eu era uma adolescente saindo do colégio e entrando na faculdade e nem ligava muito em observar as pessoas, talvez vivesse outro mundo mesmo, outros amigos. Mas na minha curta vida não me lembro de ouvir tanto as pessoas falarem em carros importados, apartamentos de tal construtora com 20.000m², enxoval do bebê que veio de Miami, Iphone 1000G, relógio Michael Kors, camisa Abercrombie&Fitch...

Também não sei se foi o desenvolvimento econômico que o Brasil passou nesse últimos anos e que fez muita gente mudar de vida, é certo que o brasileiro hoje vive muito melhor. Ótimo! É muito bom que nosso país tenha saído do buraco e as pessoas estejam melhorando de vida! Quem agüenta escutar Raquel reclamando que tá lisa pela vigésima vez na reprise de Vale Tudo no Canal Viva? Os 80’s decadente já se foram, afinal...

Porém será que esse desenvolvimento rápido mudou a cabeça das pessoas? As pessoas estão ficando doentes ou como diz Alain de Botton no ótimo livro “Status Anxiety”, estamos sofrendo de ansiedade de status?

Os iluministas tempos atrás já chamavam isso de hedonismo, ou uma atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres materiais. E outros teóricos modernos como Mary Douglas, Thorstein Veblen, Colin Campbell, Pierre Bordieu, Don Slater e outros que eu me matei pra entender no mestrado, também deram continuidade a essa teoria e aos estudos do consumo nas sociedades modernas.

Segundo o pessoal aí de cima, o seu gosto de consumo é a sua carteira de identidade, diz tudo sobre você, sobre seu estilo de vida. O gosto é uma disposição adquirida para diferenciar e apreciar, mas não é totalmente distinto, pois garante o reconhecimento comum, as coisas diferentes se diferenciam pelo aspecto em que se assemelham. Explicando melhor: é na tentativa de ser diferente que as pessoas são iguais e quem não é igual não é aceito no grupo e é criticado. E é tentando não serem criticadas que essas pessoas sofrem de ansiedade de status.

E isso virou um círculo vicioso: se o que foi definido como bom gosto é reconhecido nas massas, passa-se então a um vício de descoberta de novos gostos, e por aí vai. E é por isso que as coisas chegam hoje e só amanhã são necessidades, ou não serão necessidades jamais. Tudo bem que ninguém nesse mundo vive só de necessidade, né? Eu mesma adoro uma futilidade e é essa futilidade que ajuda a economia! Mas essa história de ser avaliado pela futilidade já não foi longe demais?

Hoje em dia um carro não é para percorrer menores distâncias, mas sim, uma experiência de velocidade. Uma panela não é para cozinhar o feijão, mas sim, para propiciar uma experiência única de sabor. Um Ipod não é para escutar música nas horas de lazer, mas sim, para que se possa experimentar uma viagem sonora da batida perfeita. Por que estamos pensando assim das coisas, como se tudo fosse uma experiência única melhor que a do vizinho?

Claro que cada um usa seu dinheiro como quer. Quem sou eu pra falar que fulano gastou 60 mil reais numa festa de casamento, o dinheiro é dele, se ele tem e quer gastar nisso, ótimo pra felicidade dele, pro ego dele e pros convidados do casamento!... Mas o problema todo que eu comecei lá em cima é o que vejo por aí, nas minhas andanças nas rodinhas: as pessoas não podem e às vezes nem dão valor a uma festa de casamento de 60 mil reais, mas movem céu e terra para ter. As pessoas têm vergonha de não ter. Esse é o grande problema, a sociedade perdeu a personalidade, a capacidade de dizer isso mesmo que diz a música: “Vou não, quero não, posso não...”


Nenhum comentário:

Postar um comentário